Por muito tempo eu pensei se deveria escrever. Talvez a ideia de poupar-te fosse-me mais palatável.
Mas este é meu espaço. Feito por mim e construído por mim pra ser o meu refúgio. Não foi feito pra ser visitado, lido, acompanhado. Se chegou até aqui é porque de mim quer saber. E a covardia te impede de perguntar.
Pois se quer saber, hoje aqui não há poesia. Hoje aqui não há doçura em palavras que enaltecem suas qualidades. Hoje, se esta é tua única forma de coragem, hoje tu vais ficar frente a frente com o que conheci de você nos últimos dias. Tu mostraste uma face de frieza e crueldade que jamais pensei existir. Conheci de ti um lado que ninguém conhecia. E o que fiz pra merecer?
Fui mulher pra ti do jeito que tu jamais vai conhecer. Te carreguei nos braços e te fiz mulher. Te fiz adulta, te fiz responsável e te fiz gente. Te apoiei, fui teu suporte. Te ensinei os primeiros passos da vida lá fora. Fui teu esteio, teu braço forte, teu porto seguro. Fui teu relacionamento adulto, maduro e responsável. Sonhador, que contigo quis construir um mundo. Mas tu querias um amor adolescente, frágil e fútil. Desculpe se em meio a 18 horas de trabalho meu corpo não aguentou te abraçar e beijar. Desculpe se em meio a tanto turbulência eu me dei o reconhecimento que esperava de você. Desculpe se o carinho que tu querias eu quis que partisse de ti. Em meio a tantos gostos e desgostos, lutas e decepções, em meio a tanta responsabilidade sobre meus ombros, infelizmente me faltou força pra fomentar exatamente o que querias de mim. Devia eu assistir seu bate cabeça, estar em casa, limpa, descansada e cheirosa, esperando minha vez. Mas, garota, cuidado com o que sonhas. Não sou garota, sou mulher. Não sou de ficar de braços cruzados, sou mulher de ação, mulher de atitude, mulher de coragem.
Não me arrependo um segundo sequer do suor derramado. Valeu muito a pena pra mim. Se pra você não teve o mesmo peso, sinto muito, a falha é tua, não minha.
Sonhei um dia em contigo construir minha vida, mas a tua personalidade me afastou de você. Sabe, amor não é obrigação. Carinho muito menos. Você precisa despertar o amor, o carinho tem que ser natural. Mas, o que sei eu da vida? Tu preferes acreditar que sou uma garota traumatizada a se dar ao trabalho de tentar me ler. Teu perfil mimado nunca te permitiu ouvir. Tu me julgas e me condenas sem perdão. Nunca foi do meu jeito, sempre foi você. Devia eu ter sido a adolescente inconsequente que te trai, maltrata e pisa. E depois vem pedindo perdão. Mas não, pra tu, eu fui mulher.
Não te abandonei um único dia sequer. Por ti sempre o cuidado falou mais alto.
E o que tens hoje a me oferecer?
Coices, pisadas, humilhação. Palavras que não tentaram, nem por um segundo, ser amenas. Diminuir sofrimento. Ao contrário, clara intenção de ser dura, grossa. Certeira. Mas o que esperar de quem nunca soube emprestar o ouvido, nunca teve uma palavra de conforto. Até mesmo quando precisava me levantar, foi na base da porrada. Sinto muito se este foi o mundo em que você cresceu. No meu houve palavras duras sim, mas, no momento certo, houve também carinho e conforto.
Espero que esta nova vida saiba ser pra você o suporte que tu não tens. Espero que tu encontre o fiel da tua balança. E espero que não demore. Se bem conheço, em breve tu deves pirar. Espero que tu tenhas te cercado dos melhores pois, ao contrário do que tantas vezes te prometi, eu não estarei sempre aqui por você. Esta promessa quebrada foste tu que cavaste.
Jurei pra ela, e sempre estive. E sempre estarei. Pois, em que pese um passado de tratamento truculento, respeito e gratidão nunca faltaram.
Já de ti. Não se pode afirmar. Tem coisas que se demonstram com gestos, muito mais que com palavras.
Respeito a memória, ao que viveu e ao que passou, isso tu não teve. Carinho, consideração. Menos.
Pisou, cuspiu e se foi. Sem ao menos olhar pra trás.
Me pergunto como pude me enganar tanto contigo. Confiar num mínimo de cuidado. Tu sequer te importou em saber como me deixou. Se eu ainda vivia. Tu tinhas com quem contar. Mas preferiu virar as costas e fechar para sempre a passagem que nos ligava.
Até ontem eu protegi sua imagem. Mesmo destruída, aguentei firme e engoli seco. E protegi tua memória. Agora, tu estas por ti. És adulta e responsável por tuas atitudes. Se elas ferem tua imagem, ou se relatam um retrato fidedigno daquilo que sempre foi mas o amor não me deixou ver já não importa. Agora, tu serás vista e medida por tuas atitudes.
Me largar de lado, evitar minha presença como se fosse uma doença contagiosa. Tira essa máscara. De quem tens medo? De mim ou de ti?
Não conte mais com a minha proteção.
Agora, tu estás da forma que sempre quis. É tu por ti.
Eu vou me reconstruir, vou me reerguer. Não atrapalhe minha obra.
Espero que tenha absorvido um pouco do que quis fazer de você, porque eu não estarei mais aqui por você.
E, pra ser sincera, não esperava de você mais do que educação...
E vi que esperava demais.
Que Deus te proteja.
E que tu tenhas, um dia, a exata noção do que fizeste comigo.
Não sou hipócrita. Não desejo que sejas feliz. Só desejo que a lei do retorno lhe seja leve, e o processo de amadurecimento lhe seja tranquilo. Espero, mas sei que não será.
Eu vou levantar. E tu vais saber exatamente a medida das cicatrizes que deixou em mim.
Por hora, desejo que o caminho lhe seja leve. Mas sou capaz de ditar seus próximos passos...
Só lembre-se de outrora: até aqui, tudo como eu falei. E não errei 1 vírgula sequer.
Passar bem. E não cometa os mesmos erros. Só se tem oportunidade de errar uma vez na vida.
