Um dos meus grandes sonhos se realizou.
Finalmente meu nome estava naquela lista.
Finalmente passei por aquela porta. Assinei aquele papel. Teve início a minha tão sonhada contratação por meio de um concurso público. Conquistei o meu impossível. Respiro quase aliviada.
Ainda sobra o medo. Da onde vem esse medo de nadar e morrer na praia? Eu passei na investigação social da Polícia Civil de SP, já fui verificada, não existe nada que me desabone. Minha saúde está ótima. O que pode dar errado que não sossega esse coração?
Foi tão esperado que o medo de ver escorrer entre os dedos só vai deixar descansar quando eu sentar naquela cadeira.
Eu conquistei o meu impossível!
E quem estava comigo?
Quem eternizou o momento de entrar naquele prédio? Quem vai eternizar a assinatura do termo de posse?
Pois é. É nessas horas que eu sinto falta.
Eu pareço mesmo independente, uma fortaleza. Mas é apenas e tão somente por falta de opção.
"Mas cadê você pra me aplaudir?"
Senti você, vô. O tempo todo. Sei que se suas pernas ajudassem, você estaria ali na porta me esperando. Eu sinto seu sorriso. Sinto seu orgulho. Foi por você. Ou, talvez, por não ter mais você...
Queria ter alguém sim pra comemorar. Minha mãe, meu pai, um amigo, um amor.
Acho que aquelas festas surpresas que eu nunca tive me fazem falta. Alguém pra vibrar. Pra abraçar. Pra deixar cair a emoção.
Talvez eu quisesse ter saído daquele prédio hoje, feliz, orgulhosa da minha conquista, e encontrar alguém me esperando, igualmente feliz, orgulhoso. Eu sei que estão. Eu sei que todos estão. Mas, no fim, fisicamente, eu estou só. Seria esse o motivo de querer tanto ir pra casa? De não conseguir trabalhar? Quero, na real, correr pro ninho.
Quem diria, pai. Tua menina que tanto você levou pra fazer prova, conquistou seu lugar.